domingo, 16 de junho de 2013

Pássaro de cimento



Em tupi-guarani, quer dizer o pássaro que imita o som do chocalho. Do ponto de vista da engenharia, significa 469. 950 toneladas de cimento, 1.275 metros cúbicos de areia, 3.933 metros cúbicos de pedra, 10.597.661 quilos de ferro e 55.250 metros cúbicos de madeira. Politicamente, significava a jogada perfeita para o nacionalismo do presidente Getúlio Vargas, que levantou no Rio de Janeiro, em 1950, o maior estádio do planeta: o Maracanã.

O nosso pássaro de cimento tinha sua razão de ser. Afinal, o Brasil sediava naquele ano a sua primeira Copa do Mundo. E tinha um time fantástico, que fora derrubando às gargalhadas cada um de seus oponentes, sem considerar o tropeço de 2 a 2 contra a Suíça no Pacaembu - aliás, outra obra de Vargas, só que dez anos mais velha.

Maracanã antgo

 

Mas no palco principal, o Maracanã, passamos pelo México na estreia, 4 a 0; pela Iuguslávia, 2 a 0; Suécia, 7 a 1; e Espanha, 6 a 1. Os atores de camisas brancas – isto mesmo, a camisa amarela só viria a partir de 1954 - alimentavam o humor da torcida. No baile contra a Espanha, Chico sentou na bola e Danilo desaforou a esquadra espanhola fazendo 22 embaixadas com o calcanhar.

Que viessem os uruguaios, os últimos da festa. O Brasil inteiro apostava no tamanho da goleada. Os jornais estampavam: Brasil Campeão do Mundo. Nunca se viu tamanha barbada. Mesmo que o time inteiro entrasse em campo de porre ou entristecido com o andamento da novela “O Direito de Nascer”, da Rádio Nacional, não deixaria de abraçar a Copa.

O prefeito do Rio de Janeiro, Ângelo Mendes de Morais, naquela tarde de 16 de julho, diante de um público de 200 mil pessoas, discursou depois dos hinos: "Vós, jogadores, que a menos de poucas horas sereis aclamados campeões do mundo por milhões de compatriotas...". Até o técnico uruguaio Juan Lopez pipocava: “só não quero saber de goleada”.

Nem o imprevisível placar de 0 a0 no primeiro tempo abaixou a bola brasileira. O empate nos dava o título. Aí nosso ponta-direita, o Friaça, meteu um a zero, o que parecia ser a martelada final na ousadia uruguaia. Mas o empate aconteceria nove minutos depois com Shiaffino. A tragédia ainda estava por vir.

O nosso Maracanã teria ruído com o chute do uruguaio Ghiggia, a dez minutos do final, se não fossem tantas as toneladas de areia, pedra e ferro que sustentavam as arquibancadas. Mas a torcida ruiu. Dizem os cronistas que aquele foi o dia mais triste da história do Brasil. O pássaro de cimento não imitou o som do chocalho naquele dia. Isto ficaria para outros voos.



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