Amarelinha (parte 4)
Futebol brasileiro perde brilho e agora corre para retomar a magia
Seleção derrota o “complexo de vira-latas” (4)
Mário Américo põe os pés no Madureira
O Madureira Esporte Clube, fundado em 1911, era um time formador de talentos, embora não fosse uma equipe de primeira linha no Rio de Janeiro. Conhecido como o Tricolor Suburbano, pelas cores de sua camisa em listras verticais grenás, azuis e amarelas, o Madureira tinha sido vice-campeão estadual em 1936, proeza que o afastara provisoriamente da lista dos times pequenos do estado.
O convite não vinha de um fã apenas interessado em levantar o moral de um lutador nocauteado, mas de alguém que sabia das mazelas do pugilismo e vivia o dia a dia do Madureira. Almir do Amaral era médico do time, onde tinha muito prestígio, principalmente com o presidente do clube Aniceto Moscoso, homem que ficara rico e poderoso graças ao jogo de bicho.
Feola, ténico da seleção brasileira |
O médico até riu do gracejo de Mário Américo depois da sondagem, prova de que o pugilista estava se despedindo da enfermaria e de que a canhota de Índio da Armada não era tão potente assim para derrubar seu bom humor:
- Eu só sei lutar boxe e consertar guarda-chuva. Só se você conseguir um emprego de embaixador da Inglaterra. Lá todo mundo usa guarda-chuva, de modo que eu abro uma grande oficina na embaixada e fico rico.
Almir do Amaral insistiu na proposta. Ele tivera notícias que o massagista titular do Madureira estava querendo se aposentar e se dispunha a ensinar ao substituto os segredos da massagem. Começava ali a última etapa da carreira esportiva do homem que pretendia roubar a bola da Copa de 1958 na Suécia. Caso a seleção brasileira ganhasse o título, é claro.
Pelé comemora gol na Suecia |
Para os 49.737 torcedores presentes no estádio Solna Raasunda, em Estocolmo, a partida entre as seleções brasileira e sueca era o capítulo final de um espetáculo novo no mundo do futebol e que prometia, ganhasse quem ganhasse, jogadas brilhantes.
Para Paulo Machado de Carvalho e Mário Américo, a decisão da sexta edição da Copa do Mundo era o último lance de uma grande jornada, que fora preparada com esmero inédito na história da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), presidida por João Havelange.
Nascido no Rio de Janeiro, Havelange era filho do belga Faustin Joseph Godefroid Havelange, representante no Brasil da Fábrica Nacional de Armas de Guerra da Bélgica e da Sociedade Francesa de Munição, fabricante de cartuchos – negócio promissor naquele início de século em que a Europa engraxava os fuzis para a Primeira Guerra Mundial, que iria eclodir em 1919.
Torcedores comemoram gol em São Paulo |
E a sociedade carioca não se esforçou em abrir os braços para Faustin e sua mulher, a francesa Juliette Ludivine Calmeau, que passaram a conviver com a elite do Rio de Janeiro quando chegaram à capital em 1913. João, o segundo filho do casal – Jules nascera um ano antes, em 1915 -, formou-se em Direito e entrou no esporte pelas piscinas da natação e do pólo aquático, e nos negócios mais rotundos pela Viação Cometa.
Na Viação Cometa, que se transformaria com o tempo na maior empresa rodoviária brasileira, João Havelange advogou, foi diretor-presidente, sócio – minoritário, parte de 9%, já que 91% do capital pertenciam aos herdeiros dos fundadores, Tito Mascioli e Arthur Brandi - e testa de ferro dos proprietários italianos da empresa paulistana para impedir sua desapropriação durante a Segunda Guerra Mundial.
O afundamento de navios brasileiros por submarinos alemães fez o governo brasileiro, fascista naquela fase do presidente Vargas, descer do muro e entrar na guerra no lado dos aliados. Os italianos e instituições italianas – como também aconteceu com os alemães e japoneses - tiveram que camuflar a origem para tocar a vida.
Caro Cacalo
ResponderExcluirO futebol brasileiro carece, e muito, de quem tenha não só o domínio das palavras, mas conhecimento, humor e critério nas escolhas para dar brilho aos seus bastidores, na linha de grandes cronistas como Nelson Rodrigues. Continue firme com seu belo blog.
Abraços
Aderval Borges