quarta-feira, 12 de junho de 2013

Amarelinha (parte 3)


Futebol brasileiro perde brilho e agora corre para retomar a magia

Seleção derrota o “complexo de vira-latas”  (3)


        Machado de Carvalho, além de atento a boas oportunidades nas transações do futebol, também era perito em promover jogadas mirabolantes para mexer com a platéia, como a que estava ensaiando com o massagista Mário Américo na Suécia. No período em que conduzia o departamento de futebol do São Paulo, cargo que assumira em 1957, e já acostumado com as mumunhas do esporte, ele costumava usar uma estratégia curiosa nos momentos em que o time estava em desvantagen: pagava torcedores do São Paulo para vaiarem o próprio time no intervalo do jogo e levava os jogadores para presenciarem a revolta da platéia. A intenção era mexer com o brio dos atletas. Quase sempre dava certo.

Mário Américo
     Mário Américo, o outro elo da tentativa de confundir o protocolo da decisão em Estocolmo, nasceu em Minas Gerais em 1912, na cidade de Monte Santo, e teve uma vida atribulada até encontrar o futebol. Depois da morte do pai, quando ele tinha seis anos, viveu período nebuloso como empregado da Fazenda Vicente Carvalhaes, em que seu pai trabalhou.
    


  


 Por dificuldades financeiras da mãe, que lavava roupas para manter os três filhos, e promessas enganadoras dos patrões, tornou-se o serviçal negrinho disponível para todas as tarefas de gente grande na nova moradia – apartar vacas, limpar currais, cuidar do jardim, carpir, cortar cana, colher café, ajudar na limpeza da cozinha, engraxar sapatos e carregar lenha.  
      O menino faz-tudo optou então pela fuga para São Paulo, onde tinha um primo que lhe daria guarida - desde que não imaginasse que a capital fosse uma cidade como Monte Santo e que bastaria perguntar pelo primo Melquíades na primeira esquina que estaria em casa. O aventureiro, por desconhecer atalhos confiáveis, seguiu então trajetória que iria lhe apresentar o ambiente das grandes cidades brasileiras dos anos 1920.
      Foi ajudante de engraxate (Sorte grande: sentado numa mureta da Estação da Luz e assustado com o gigantismo da cidade, conseguiu o emprego no primeiro dia em que chegou à capital paulista, em troca de casa,comida, ordenado justo e a atenção que um menino migrante precisava), auxiliar de mecânico (Junto com o primo Melquíades, a quem encontrara por acaso nas ruas de São Paulo), baterista (Atuou em grandes bandas paulistas, quando ganhou o apelido de Mario Charleston, e pôde aumentar a renda com o dinheiro do trabalho na oficina mecânica, até que recebesse cartão vermelho do emprego extra quando descobriram que tinha idade inadequada para trabalhar como músico na noite paulistana) e pugilista (Lutou na academia dos argentinos Armando e Aristides  Jofre, formadora de campeões no boxe, como o filho de Aristides, Eder Jofre, campeão mundial).
    

Mário Américo socorre jogador lesionado



O menino de Monte Santo teve assim uma carreira profissional robusta em espaço reduzido de tempo. Já era ex-peão de fazenda, ex-engraxate, ex-mecânico de carros, ex-baterista e, por ora, pugilista. Mario Américo deu conta ainda de tirar a família de Minas e trazê-la para morar na cidade paulista de São José do Rio Pardo, promessa de ajuda que fizera ainda menino, casar-se com uma moça da nova cidade da família e participar da revolução de 1930. Quem investigasse seu histórico duvidaria que aquele mineiro tinha apenas 17 anos.
    A carreira de pugilista fez com que Mário Américo logo tomasse um trem da Central do Brasil rumo ao Rio de Janeiro, a capital brasileira. Era um caminho natural para quem desejava ser campeão mundial. Foram dez anos nos ringues - atividade que complementava nas folgas das lutas com a de consertador de guarda-chuva -, muitas vitórias e poucas derrotas, fama, mas dinheiro curto, já que o esporte abraçava poucos lutadores promissores no país.
    A vida do pugilista, que sonhava com o título de campeão do mundo, estremeceu de vez numa luta no Ginásio Brasil, no Rio de Janeiro, quando foi surpreendido por um contragolpe de canhota do peso-leve Antonio Mesquita, o Índio da Armada, que levou Mário Américo à lona e a questionar se não haveria profissão melhor para se trabalhar.
    A resposta veio do médico Almir do Amaral, quando o lutador ainda estava na maca para recuperação da surra, e o médico lhe ofereceu carona para Madureira, onde os dois moravam. Mário Américo ficou então sabendo que Amaral acompanhara todas as suas lulas desde que chegara ao Rio de Janeiro, era seu fã, mas achava que Mário Américo era muito brigão, e lutador brigão, na sua avaliação, tinha carreira curta:

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