quarta-feira, 17 de julho de 2013

Fausto, o craque brasileiro do Barça


O Vasco partiu para uma excusão para a Europa para ganhar uns trocados e exibir um elenco que vinha esbanjando talento, em especial o meio-campista Fausto, que distribuía a bola com notável maestria. E no meio da viagem viu o Barcelona se encantar com o craque, um Neymar, só que em outra posição. Na sequência do encantamento veio a notícia: o  Barça acabara de fechar contrato com Fausto, apelidado pela torcida brasileira como Maravilha Negra.

Fausto, o Maravilha Negra

 
O Vasco parte para campos europeus com uma equipe de primeira linha. Entre os craques, que viajaram no navio Arlanza em 1931, estava um crioulo alto e elegante chamado Fausto, mais conhecido como Maravilha Negra. Fausto marcou época no futebol brasileiro pela astúcia em distribuir bolas no meio-campo. Na viagem, o Vasco foi enfrentar, em Lisboa, o combinado Benfica-Vitória-Casa Pia. Lá pelas tantas, o juiz marcou um pênalti contra o time carioca.

Ninguém do Vasco gostou da marcação e fez questão de deixar isso bem claro para o português do apito. Acalmados os ânimos, quando o centroavante Aníbal José se preparava para o chute, Fausto foi até a bola e lhe desferiu uma cusparada.


Fausto, craque do Vasco


Pelo histórico desse tipo de agressão no futebol, o alvo do arremesso bucal sempre foi o adversário, não a bola. E ninguém entendeu nada, muito menos o chutador, que bicou a bola por cima do travessão. 
O juiz mandou voltar a cobrança, percebendo, talvez, que a bola, uma simples ferramenta do jogo, tinha que ter o devido respeito. Por isso, não entrou. Fausto comentou com o goleiro Jaguaré que só estava “passando a saliva” na redonda.

Nova cobrança. “Oh, raios”, pensou Aníbal José ao ver a bola novamente na marca de pênalti. Na hora em que ele correu para decidir logo aquela história, Jaguaré jogou o boné sobre a bola. Novo chute para a lua. O juiz mandou repetir a cena mais uma vez, como se o boné tivesse cegado a bola, daí não ter entrado. Finalmente, já cansados da ladainha, os brasileiros saem de perto e Aníbal José mete a bola para dentro. Mesmo assim, o Vasco acabou vencendo por 4 a 2.

O futebol brasileiro passava por várias transformações no período. Estava prestes a se profissionalizar e começava a aceitar que pobres, mais exatamente os negros, entrassem em campo. O Vasco foi o primeiro clube brasileiro a aceitar crioulos em sua equipe. E para lá foi Fausto, em 1927. Fez fama rapidamente pela garra e habilidade como centromédio (o center-half da origem inglesa de nosso futebol, o volante de tempos depois) e pelo gosto por gafieira, violão e cachaça.





A excursão para a Europa era uma chance para Fausto mostrar seu futebol em outras praças. O primeiro amistoso foi contra o Barcelona. Perdeu por 2 a 1, mas deu o troco três dias depois pelo mesmo placar.
Aquilo foi uma surpresa para os espanhóis. Afinal, o Brasil ainda estava começando a se entender com a bola. Os espanhóis ficaram ainda mais impressionados com o jogo de Fausto, e este encantado com a estrutura do esporte naquele país, em que o futebolista tinha o status do toureiro, um artista popular com o bolso sempre cheio de pesetas.

O Vasco teve mais duas partidas vitoriosas na Espanha e partiu para Portugal, onde as confusões não ficaram restritas ao jogo dos pênaltis. Para o jornal português Diário de Notícias, a cusparada de Fausto e o boné de Jaguaré demonstravam “ignorância das regras”. Um outro jornal, Os Sports, porém, jogou confetes sobre Maravilha Negra e fechou a crônica com um elogio às avessas, um preconceito que o marcaria como carrapato durante a carreira: “Com tanta classe até se pode não ser branco”.

 O quiproquó maior em Portugal ficou para a segunda partida contra o Porto. Em certo momento, ao validar um gol em impedimento, o juiz se viu cercado pelos vascaínos. O mais exaltado era o centroavante Russinho, que descobriu a orelha do juiz desguarnecida.

Os patrícios não gostaram da brincadeira e partiram para a briga. Um guarda entrou em campo metido em orgulhosa autoridade e levou uma rasteira. Com a humilhação, puxou a espada, e Russinho percebeu que era hora de correr. Safou-se da espada, mas teve que passar a noite na cadeia, sendo solto no dia seguinte pelas mãos do Cônsul brasileiro Vilares Fragoso.

 Naquela excursão, os europeus tiveram que se curvar ao talento do Maravilha Negra. Não só se curvaram como se sentiram na obrigação de contratar o craque. Nem bem acabou a temporada em campos portugueses, Raul Campos, presidente do Vasco e chefe da delegação, recebeu a bomba de que o Barcelona acabara de contratar Fausto e Jaguaré.

Para Fausto, apesar da façanha da contratação, tinha início mais uma etapa de conflitos com dirigentes e com uma estranha gripe que sempre o acompanhou enquanto jogou futebol. A gripe se chamava tuberculose e o matou em 1939, aos 35 anos. Da vida de Fausto, ficou, entre outros episódios, a contratação pelo Barcelona, que já pescava em times brasileiros quando a bola ainda engatinhava por aqui.

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