segunda-feira, 22 de julho de 2013

Derrota que um dia azucrinou Juvenal



Os torcedores do São Paulo ficaram malucos. Tomar de 4 a 0 do Milan era demais. Pior: tiveram de escutar tudo da boca de Geraldo José de Almeida, locutor da Rádio Panamericana, a "Emissora dos Esportes", que acompanhava a excursão do tricolor pela Europa. O São Paulo seguia viagem, em 1951, na companhia do Bangu do Rio. Mas tomar de quatro era a desonra das desonras, era cutucar a paciência do então jovem são-paulino Juvenal Juvêncio. Não bastasse tomar de goleada, o juiz enfiara a mão naquele timaço que fizera o diabo nos anos 1940, orquestrado por ninguém menos que Leônidas, o Diamante Negro.



Geraldo José de Almeida




Naquele tempo, em que as emissoras de rádio já faziam estrepolia para ganhar audiência, um narrador de uma concorrente, Aurélio Campos, chegou a clamar pela intervenção de todos aqueles que tivessem carteirinha de autoridade diplomática para que tomassem providências em defesa de tão respeitável representante da "pátria de chuteiras".


Logicamente nada foi feito, mesmo porque aquele jogo entre São Paulo e Milan nunca existiu. Foi apenas uma brincadeirinha de primeiro de abril daquele ano de 1951, que teve repercussão ruidosa. Principalmente dos jornais que publicaram a informação no dia seguinte como verídica - aliás, uma virada no conhecido "gilete press", forma com que algumas emissoras de rádio colocavam e ainda colocam no ar as notícias publicadas nos jornais.


Antes da excursão, Geraldo José de Almeida ficou trancafiado na garagem de sua casa gravando a farsa. Depois, na véspera de primeiro de abril, o jogo fictício foi divulgado em anúncio de jornais e pela rádio. Nem a mulher do radialista ficou sabendo da tramoia- o que pode ter sido um risco maior do que a própria tramoia.


Leônidas da Silva


Também não era a primeira vez que a Panamericana mentia para os seus ouvintes. É que a Panamericana foi a primeira a criar o "Plantão Esportivo", comandado por Narciso Vernizzi - que nem imaginava um dia em se transformar no "Homem do Tempo". Vernizzi coordenava o trabalho de uma turma de radioescutas, que coletava em ondas curtas as notícias dos clubes brasileiros em excursão e jogos do exterior, além daquelas de colaboradores que gritavam naqueles telefones pretos para passar informações de outras cidades brasileiras.


O pioneirismo da Panamericana animou as demais emissoras. Não exatamente para montar uma estrutura similar. Mas para fazer escuta na Panamericana e passar à frente as informações, como se o gol fosse delas. Até que o diretor da emissora, Paulo Machado de Carvalho Filho, resolvesse dar um drible da vaca nas concorrentes.


De vez em quando, a Panamericana dava um resultado errado, algo como hoje dizer que o Íbis estava goleando o Corinthians. E as outras emissoras que tinham transmissão esportiva, como a Difusora, a Excelsior, a Bandeirantes e a Tupi seguiam na trilha dizendo que o Íbis era o maior time do mundo. Logo a emissora desmentia a notícia. O desmentido das concorrentes chegava mais tarde. Pelo menos o ouvinte da Panamericana recebia a mentira e a verdade em primeira mão.


A Panamericana queria que outros empresários do rádio metessem também a mão no bolso para montar suas equipes. O tempo deu conta do recado.

http://www.youtube.com/watch?v=7F-f1sSTF-M







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