sexta-feira, 12 de julho de 2013

Amarelinha (parte 7)


Futebol brasileiro perde brilho e corre para retomar a magia




Capítulo 1 - Seleção derrota o “complexo de vira-latas”



Time conhece dentista e psicólogo



O estafe de profissionais escolhido para a delegação brasileira que iria amparar os jogadores na Copa da Suécia não era mais um grupo de especialistas em músculos e táticas de futebol. Dentista e psicólogo, por exemplo, nenhuma equipe nacional sonhara em contratar até então. Mas eles faziam parte da turma montada agora pela CBD.

Só para se ter uma ideia do que fora aquela reformulação na forma de trabalho, o dentista Mario Trigo observou de imediato que a seleção não iria a lugar nenhum na Copa se fossem desprezadas as condições dentárias do grupo de jogadores, cuidado que nunca clubes e seleções deram a atenção devida.



Didi, o craque da Copa de 1958




Trigo não estava fazendo firula com o diagnóstico. Os dias dedicados a eliminar cáries e dentes comprometidos dos jogadores antes dos jogos da Suécia, embora trouxessem para Trigo o sentimento de dever cumprido, foram dias de terror para os atletas que tiveram de enfrentar o boticão de Mário Trigo.

Oreco, lateral-esquerdo do Corinthians, por exemplo, saiu da cadeira do dentista com sete dentes a menos, anúncio de que seria difícil de o jogador esboçar um sorrido mesmo que o time fosse campeão.

O resumo da batalha odontológica enfrentada pela equipe de dentistas da Faculdade de Odontologia do Rio de Janeiro, coordenada por Trigo, era alarmante. Entre as arcadas dentárias dos 33 jogadores inicialmente selecionados, foram detectados 470 dentes com problemas, o que dava uma média que se aproximava de 15 por atleta. Os campeões de extrações foram Oreco (7), Gilmar, goleiro do Corinthians (4), Pepe, ponta-esquerda do Santos (3) e Garrincha, ponta-direita do Botafogo (6).



Garrincha


Quanto ao psicólogo João Carvalhaes, seu passado exibia tímidas passagens na área de esportes. À convite de Paulo Machado de Carvalho, ele participara da avaliação de jogadores do São Paulo, em 1954, e mais tarde no recrutamento de árbitros e bandeirinhas da Federação Paulista de Futebol.

Psicologia e futebol não se conheciam bem ainda naqueles anos 1950, e, para atuar na equipe que tentava colocar a seleção brasileira nos eixos, o histórico profissional de Carvalhaes era acanhado.

Para a CBD, no entanto, a experiência de Carvalhaes era suficiente para derrubar o que Nelson Rodrigues chamava de “complexo de vira-lata” que intimidava o jogador brasileiro nos momentos de decisão. Este traço, segundo a comissão técnica, ficara evidente principalmente na derrota para a seleção uruguaia na decisão da copa de 1950 realizada no Brasil. O objetivo dos testes psicológicos a serem aplicados por Carvalhaes era identificar quem poderia tremer na hora agá.

Quando veio o convite da CBD, foi que Carvalhaes pôs o pé pra valer no futebol e se afastou temporariamente das atribuições da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) de São Paulo, onde era funcionário e examinava a saúde psicológica de motoristas e cobradores de ônibus e bondes.

A bateria de testes foi realizada na Santa Casa, no Rio de Janeiro, e na CMTC, em São Paulo. Garrincha não teve resultados muito favoráveis nos testes. Pisou na bola assim que foi preencher o formulário que pedia sua atividade: “atreta”. E seguiu viagem naquilo que parecia sem nexo, na visão do jogador, e que caíra como uma bomba nas mãos de Carvalhaes. Resultado: “instrução primária, inteligência abaixo da média e grau de agressividade zero”.



Feola, técnico da seleção brasileira em 1958


Na avaliação dos testes de Pelé, Carvalhaes também desconsiderou o que acontecia dentro do campo, ao julgar o jogador “obviamente infantil”, sem o “necessário espírito de luta”, muito jovem “para sentir as agressões e reagir com a força adequada” e sem “senso de responsabilidade necessário ao espírito de equipe”. E concluiu: ”Não acho aconselhável o seu aproveitamento”.





Nenhum comentário:

Postar um comentário