terça-feira, 27 de agosto de 2013

Amarelinha (parte 13)



Futebol brasileiro perde brilho e corre para retomar a magia

  Capítulo 1 - Seleção derrota o “complexo de vira-latas”


Resumo dos trechos anteriores:


“Brasil derrota o complexo de vira-latas” conta a história da seleção brasileira na Copa de 1958. Com os vexames das competições anteriores, principalmente da Copa de 1950, realizada no Brasil, quando a equipe perdeu do Uruguai por 1 a 0 em um Maracanã tomado por 200 mil torcedores, a então CBD partiu para uma renovação radical na preparação da equipe. Paulo Machado de Carvalho, o primeiro paulista na chefia da delegação brasileira, jogou para escanteio cartolas políticos da bola e montou uma comissão técnica de primeira linha.

A Parte 13 da série de textos relata a seleção brasileira já na Suécia e se preparando para enfrentar os adversários da primeira fase na Copa: Áustria, Inglaterra e União Soviética.


Uma comissão técnica sem firulas

Já na Suécia para começar a disputar a Copa de 1958, a seleção brasileira estava armada para o que viesse pela frente naquela competição que na época se posicionava para encabeçar o universo do entretenimento do esporte. E o futebol brasileiro vinha com uma equipe talentosa, como acontecera em outras Copas, só que agora amparado por uma comissão técnica primorosa, capaz de azeitar um jogo que não parava mais de tomar estádios, campos de várzea e praias do país.



Djalma, Zito, Feola e Pelé



Na composição de profissionais que iriam ajudar os jogadores em campo, o grupo se apresentava com Paulo Machado de Carvalho, um sujeito que não tinha interesse em ganhar dinheiro com o futebol nem de galgar posições políticas com votos do esporte; com Vicente Feola, um técnico sem firulas de comportamento e que não queria orquestrar o time para ganhar holofotes no caso de triunfo. Além dessas peças, a delegação era um grupo preparado para que todos opinassem sem medo para que o andamento do espetáculo fosse bem-sucedido.

Os membros da comissão técnica poderiam opinar sempre, mas a decisão ficaria com o grupo. Foi, por exemplo, o que acontecera com o psicólogo João Carvalhaes, o pioneiro ao aliar psicologia e futebol, mas que vinha de experiências ainda imaturas no esporte. E o psicólogo aplicou psicotestes no elenco como se os jogadores fossem trabalhadores de uma fábrica de biscoitos.




Garrincha e Plé


Pelo parecer de Carvalhaes, Pelé e Garrincha não teriam poltronas no avião que iria para a Europa. Mas a comissão técnica fez que não viu os resultados dos tais testes e seguiu viagem com Pelé e Garrincha. Carvalhaes também foi, mais por influência do chefe da delegação, por prever amareladas no meio do trajato, situação em que o psicólogo poderia intervir.

Existia, assim, um time de profissionais para cada posição e homens de apoio para áreas estratégicas. O preparador físico Paulo Amaral, responsável pelo condicionamento do Botafogo, guardara espaço para o massagista Mário Américo, alguém do chamado segundo escalão mas que seria de importância fundamental nos momentos em que tivesse que agir.

Mário Américo, além de ser um profissional formado em educação física, raridade para quem trabalhava na área no período, seria também o “pombo correio” da seleção, o homem que corria como o tcheco Emil Zátopek - atleta que conquistara a São Silvestre de 1953 - e chegasse aos jogadores contundidos a tempo de fazer massagens e lhes passar importantes informações transmitidas por Feola.




Mário Américo


Naquela primeira fase da Copa, por exemplo, em que o Brasil enfrentaria a Áustria, Inglaterra e União Soviética, membros da comissão técnica se enfiaram numa sala e trancaram a porta. Nem pensamento poderia vazar dali às vésperas daquele primeiro jogo do Brasil. Em caso de derrota, o complexo de vira latas poderia se agigantar e estragar tudo que a comissão técnica já tinha sido feito com zelo de relojoeiro – contava ainda o fato de que apenas duas seleções seguiriam para a etapa seguinte.

Estavam ali Feola, Nascimento, Gosling, Paulo Amaral e um sujeito pouco conhecido, mas que vinha sendo peça-chave na preparação da seleção brasileira: Ernesto Santos. Santos, ex-treinador do Fluminense, fora contratado pela CBD para ser o observador da seleção, um “espião”, termo usado por Ruy Castro em Estrela Solitária – um brasileiro chamado Garrincha.

Ernesto Santos até aquele momento era um fantasma na delegação brasileira. Só se ouvia falar dele de vez em quando, mesmo assim por meio de sussuros. Mas não era um fantasma para a cúpula da comissão técnica, especialmente para Feola e Nascimento, que sabiam os detalhes de suas andanças pela Europa.



Gosling e Pelé


Desde 1957, ele observava as seleções que o Brasil enfrentaria na Suécia. E agora chegara a hora de falar para a comissão técnica os segredos daqueles times, e suas considerações iriam contribuir diretamente na escalação da equipe, o que nem Paulo Machado de Carvalho poderia fazer.

A comissão técnica ficou então maluca quando o observador de seleções abriu a boca. Pelos treinos da semana, Garrincha seria o titular mesmo que Feola estivesse de olhos fechados. Mas Ernesto Santos alertou o técnico de que a Áustria congestionava o meio-campo com quatro homens. Seria um perigo se a seleção brasileira jogasse ali com três jogadores.

O técnico ponderou que Garrincha poderia fazer o mesmo que Zagalo fazia na ponta-esquerda: recuar para marcar o meio-campo adversário pelo lado direito. Todos concordaram com a estratégia de Feola. Menos Paulo Amaral. Justificativa: obedecer instruções não era o forte de Garrincha, dependia muito da disposição do ponta. Ele fazia a recomendação com base na vivência com o ponta no Botafogo. O disciplinado Joel ganhou a posição.

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