domingo, 29 de setembro de 2013

O voo do massagista


Edmar Antônio da Silva, o Tita, é um brasileiro comum. Lembra Mario Américo, negro e pobre como Tita, que chegou a massagista da seleção brasileira de futebol e foi campeão do mundo em 1958. Tita, ex-morador de rua que chegou a viver em barracos de papelão, foi agora chamado para a seleção brasileira para ser o massagista nos amistosos contra Gâmbia a Coreia do Sul, que acontecem no mês de outubro.


Tita, massagista do Cruzeiro

Como Mario Américo, Tita é mineiro, e em um momento embaraçoso da vida - o que, no caso do brasileiro negro e pobre, significa ter de correr atrás do dinheiro para se sustentar -, Tita recebeu um empurrãozinho para seguir em frente.

No caso de Mário Américo, a força veio do médico do Madureira, Almir do Amaral, que acompanhava Mario Américo, no Rio de Janeiro, quando ele tentava dar um salto na vida pelo pugilismo. O boxe, em grande parte do século passado, mostrava-se como oportunidade para um passo gigante na vida por meio do esporte, o que o futebol faz hoje.

Mario Américo
A vida do pugilista Mario Américo, que sonhava com o título de campeão do mundo, estremeceu de vez numa luta no Ginásio Brasil, no Rio de Janeiro, quando foi surpreendido por um contragolpe de canhota do peso-leve Antonio Mesquita, o Índio da Armada, que levou Mário Américo à lona e a questionar se não haveria profissão melhor para se trabalhar.

A resposta veio do médico Almir do Amaral, quando o lutador ainda estava na maca para recuperação da surra, e o médico lhe ofereceu carona para Madureira, onde os dois moravam. Mário Américo então ficou sabendo que Amaral acompanhara a todas as suas lutas desde que chegara ao Rio de Janeiro, que era seu fã, mas achava que Mário Américo era muito brigão. E lutador brigão, na sua avaliação, tinha carreira curta.

- O Madureira está precisando de um massagista. Você topa?

O convite não vinha de um fã apenas interessado em levantar o moral de um lutador nocauteado, mas de alguém que sabia das mazelas do pugilismo e vivia o dia a dia do Madureira. No clube, Mario Américo poderia usar as mãos sem correr tanto perigo. Começou assim a carreira de massagista de Mario Américo, que seria campeão mundial pela seleção brasileira em 1958.

Luiz Felipe Scolari
O esporte, que depois apresentou o futebol a Maria Américo para tentar um sonho mais ambicioso, também apareceu no caminho de Tita. Só que veio pelas mãos de Luiz Felipe Scolari, o Felipão, técnico que cruzou com Tita quando os dois conviveram no time mineiro em 2001. Felipão, gaúcho de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, crescia na carreira e estava naquele momento treinando um Cruzeiro que mais uma vez colocava as mangas de fora e brilhava no futebol brasileiro. E um dia Felipão deu uma carona para o massagista do clube, que saía no final do dia carregando uma cesta básica, parte de seus ganhos, para ir para casa e comemorar com a família a chegada da cesta de alimentos.

Assim como Mario Américo, Tita também teve um ombro amigável. Naquela carona oferecida por Felipão, o técnico descobriu que o massagista do Cruzeiro morava em uma favela de Belo Horizonte. E ficou indignado de o massagista do Cruzeiro, um time grande do futebol brasileiro, carregar ainda bagagem tão pesada naquele estágio da profissão.

Tita comemora convocação
Prometeu então ao massagista que lhe daria o bicho a que tinha direito caso o time mineiro ganhasse a Copa Sul-Minas contra o Coritiba. O Cruzeiro foi vitorioso, e Tita recebeu do amigo R$ l8 mil. Com o dinheiro, acrescido da ajuda de jogadores da equipe, pôde sair da favela na Pedreira Prado Lopes, no bairro da Lagoinha, e comprar um apartamento no bairro Santa Mônica, onde mora até hoje.

Assim como Mario Américo fez em seu tempo, Tita seguiu viagem na carreira ao fazer um curso universitário para se aperfeiçoar. Mario Américo foi o primeiro massagista de futebol do Brasil a fazer o curso de educação física. Tita seguiu o mesmo caminho e está para completar o curso de fisioterapia em Belo Horizonte.

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