Didi |
Futebol brasileiro perde brilho e corre para retomar a magia
Capítulo 1 - Seleção derrota o “complexo de vira-latas”
Resumo das partes anteriores
Naquela primeira fase da Copa da Suécia, em que o Brasil enfrentaria a Áustria, Inglaterra e União Soviética, membros da comissão técnica se enfiaram numa sala e trancaram a porta para discutir a estratégia do jogo. Em caso de derrota, o “complexo de vira latas” poderia se agigantar e estragar tudo que a comissão técnica já tinha sido feito. Estavam ali Feola, Nascimento, Gosling, Paulo Amaral e um sujeito pouco conhecido, mas que vinha sendo peça-chave na preparação da seleção brasileira: Ernesto Santos, ex-técnico do Fluminense que fora contratado pela CBD para ser o observador dos adversários do Brasil. Ele percorrera a Europa desde 1957 e trazia informações importantes para a escalação da seleção para cada partida.
Garrincha fica fora do primeiro jogo
Garrincha não deixou os nervos fugirem pela boca por ter ficado fora da seleção brasileira no primeiro jogo da Copa de 1958 contra a Áustria, na cidade sueca de Uddevalla. Perder as estribeiras não era muito do feitio do jogador. Mas feliz com certeza não estava.
Quando o técnico Feola foi lhe explicar que a escolha de Joel era uma questão de estratégia naquela primeira partida da competição, já que o ponta substituto, embora não fosse tão bom driblador como ele, faria o papel de correr atrás do robusto meio de campo adversário para evitar surpresas, Garrincha ficou olhando o chão do vestiário para ver se encontrava alguma formiga. Não achou, mas ficou encafifado com a notícia.
Garrincha e Pelé |
Na preparação para o início da Copa, ele já escutara um zum-zum-zum de que Joel poderia tomar o seu lugar, mas a semana que antecedera o jogo havia lhe tirado a minhoca da cabeça, já que os treinos fizeram os olhos dos membros da comissão técnica se iluminarem com seu desempenho. Estava na cara de todos. E Mário Américo, o massagista faz-tudo da seleção, pensou Mané, já teria dado um jeito para fazer brilhar suas chuteiras, forma de avisar os austríacos que a brincadeira ia começar.
Mas Garrincha engoliu a história de Joel, atleta que já conhecia dos campos do Rio de Janeiro. Joel, ponta-direita do Flamengo, era tido como o “mais inglês ponteiro brasileiro de sua época”, como diz o jornalista e escritor Marcelo Duarte. Em Guia dos Craques – os grandes jogadores de futebol do Brasil e do mundo, Duarte descreve o jogador, três vezes campeão carioca pelo Flamengo, como dono de “um futebol frio e cerebral” que driblava apenas o suficiente para tirar o marcador da jogada. Depois cruzava com maestria. Garrincha não entendia bem esse jeito de jogar, mas sossegou. Por um tempo.
O Brasil entrou em campo com Gilmar, De Sordi, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Dino Sani, Didi e Zagallo; Joel, Dida e Mazzola. Ou seja, a equipe era formada por jogadores brancos, com exceção de Didi, um negro que teria que entrar no jogo mesmo que o “complexo de vira-latas” tivesse se aposentado – um dos argumentos da elite do futebol brasileiro era de que os jogadores negros eram os mais afetados nas horas de decisão.
Treinamento na Sécia |
O jogador do Botafogo era alguém que nem a torcida adversária mais passional admitiria estar fora da seleção brasileira. Além de atleta enaltecido pela crônica esportiva pela elegância ao articular a jogada – cabeça em pé, lançamentos perfeitos e chutes como a “folha seca” que enterravam o moral dos goleiros adversários -, Didi foi o autor do gol da vitória por 1 a 0 do Brasil contra o Peru, no Maracanã, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1958. Foi aquela vitória que havia permitido que a seleção brasileira estivesse naquele momento em campos da Suécia. Resumo: o primeiro a receber a camisa amarela no vestiário era Didi, conhecido pela mídia como o “Príncipe Etíope”.
A partida contra a seleção da Áustria, apesar de ser a equipe mais fraca do grupo, não foi a barbada que se esperava. De início, por ser o jogo de estreia do time brasileiro, algumas pernas foram tomadas por tremedeiras. Depois, como Ernesto Santos avisara, o time austríaco tinha exímios chutadores, o que fez o goleiro brasileiro praticar uma série de milagres.
Nílton Santos |
Apesar dos sustos, o centroavante Mazolla deu jeito de acalmar os brasileiros ao fazer, aos 37 minutos do primeiro tempo, o primeiro gol do jogo. Mas os austríacos não relaxaram. E voltaram a pressionar, como que indignados pelo fato de serem considerados membros da seleçãozinha do grupo. Mas aos cinco minutos do segundo tempo, a Áustria foi surpreendida pela arrancada de Nílton Santos em direção ao seu campo, coisa que beque não costumava fazer. Na intermediária, o lateral tabelou com Mazolla e se viu na frente do gol adversário. Na entrada da área, encobriu o goleiro Szanquald como se estivesse jogando tênis de praia em Copacabana.
Dizem que Feola teria ficado fulo da vida com a tal arrancada. Mas, segundo o jornalista Ruy Castro, a história foi diferente. Está certo que um lateral partir para o ataque era incomum, mas Nílton Santos fora pioneiro na jogada e já estava cansado de fazer gols assim pelo Botafogo, além de Zagallo ter protegido a zaga na hora do avanço.
Mazolla fez o três a zero no final da partida. Agora a seleção iria para Gotemburgo, onde enfrentaria Inglaterra e União Soviética. A tremedeira nas pernas já era do passado.
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