sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Amarelinha (20) - A bola da Copa


Futebol brasileiro perde brilho e corre para retomar a magia

Capítulo 1 - Seleção derrota o “complexo de vira-latas”

Garrincha e Newton Santos

Resumo do texto anterior
O Brasil foi para o jogo ecisivo contra a Suécia na Copa de 1958 com o "complexo de vira-latas" devidamente nocauteado. Restava seguir o roteiro que a seleção brasileira cumpria desde que começara a se preparar para a competição -uma equipe técnica de primeira linha e jogadores que espantavam o mundo do futebol a cada jogo. Com o primeiro gol da Suécia, Didi descartou o sonho sueco. Assim que Bellini apanhou a bola nas redes e a entregou a Didi, o meio-campista apanhou a bola e caminhou lentamente até o meio do campo, deixando no caminho conselhos para acalmar os companheiros. Foi a senha para que a equipe começasse a jogar. O Brasil ganhou por 5 a 2 e foi o primeiro país a ser campeão do mundo fora de seu continente.Terminada a partida, viria ainda o lance final da festa, que estaria no dia seguinte em todos os jornais do mundo. Foi uma ousadia capitaneada por Paulo Machado de Carvalho e pelo massagista Mário Américo que repetia o que acontecera naquele ano de 1958 com a seleção brasileira. Essa jogada final não foi tão importante como o jogo, lógico, mas a Copa não seria a mesma sem ela.


A bola da Copa

A jogada foi espetacular, e o público sueco, alucinado pelo futebol brasileiro, entendia estar acontecendo ali, no estádio Raasunda, aos 47 minutos do segundo tempo, uma nova mágica dos brasileiros. Mário Negrinho correu até o fundo do campo, perseguido pelo juiz francês Maurice Guigue. Chegou até o alambrado, deu meia-volta e saiu dando olé em seu perseguidor, que se estrebuchou no gramado. Mário deu um pique até o outro lado do campo, agora tendo em seus calcanhares, além do juiz, três policiais suecos e um dirigente da FIFA. Chegou ao outro alambrado e deu de cara com o comparsa Chico, que de tão emocionado mostrou-se incapaz de completar a jogada. A torcida delirava e os flashes pipocavam para registrar o lance fantástico do final da partida.


Mário Américo

Mário tinha que dar um jeito de cumprir o que havia combinado com o dr. Paulo antes do jogo. Era hora de improvisar. Olhou para o vestiário e saiu ziguezagueando, deixando no chão juiz, dirigente da FIFA e policiais. O improviso seria perfeito caso algum desgraçado não tivesse tido a infeliz idéia de trancar a porta do vestiário. Agora era um time inteiro de policiais suecos participando da perseguição.

Mário percebeu então uma brecha na retranca sueca: um corredor ao lado do vestiário. Foi por ali que ele deu a última arrancada, fugindo dos olhos da torcida, e pulou um muro, uma janela e se viu dentro do vestiário brasileiro, trazendo nas mãos a razão da heróica jogada: a bola da decisão da primeira Copa do Mundo conquistada pelo Brasil.


Machado de Carvalho e Pelé

Quando o Brasil foi para a decisão da Copa de 1958 na Suécia, contra o time da casa, havia quase a certeza na delegação brasileira de que a Copa estava no papo. Baseado nisso é que o chefe da delegação Paulo Machado de Carvalho dera a ordem ao massagista da equipe para que surrupiasse a bola do jogo. Ele sabia que estaria quebrando uma tradição, segundo a qual o juiz, principalmente em decisões, saía do campo carregando a bola debaixo do braço.

A proeza ficou sob a responsabilidade do massagista Mário Américo, que até pouco antes da Copa era conhecido como Mário Negrinho, em seus tempos de engraxate, mecânico, baterista e pugilista. Para coadjuvante, fora escalado o roupeiro Chico Assis. Ao contrário de toda a equipe brasileira, que entrou confiante para a última partida, os dois candidatos a larápios de bola entraram tremendo no estádio de Estocolmo, diante da responsabilidade daquela missão quase impossível.

O plano de Mário Américo era o seguinte: assim que terminasse o jogo, ele tentaria apanhar a bola antes do juiz e bandeirinhas; Chico que ficasse esperando fora de campo, atrás do gol, que ele arremessaria a bola. Depois, Chico que sumisse do mapa. Os prognósticos para a partida foram certeiros. Restava dar certo o sumiço da bola.


Gilmare Pelé

O Brasil deu um show de bola nos suecos, vencendo por 5 a 2 -aliás, coube ao Brasil estabelecer as duas únicas goleadas em decisões de copas do mundo, em 1958 e em 1970, no México, nos 4 a 1 contra a Itália. O último gol do jogo contra os sueco foi de Pelé, depois de confeccionar dois chapéus dentro da área adversária. O jogo estava praticamente no fim e o juiz estava com o apito no ponto. Neste momento, Mário Américo disparou em direção à área.

O que o massagista tinha imaginado aconteceu. Outros 20 espertinhos tiveram a mesma ideia do dr. Paulo. Mas Mário chegou primeiro ao lado do juiz, que já estava com a bola debaixo do braço, e com gestos e caretas o convenceu que aqueles sujeitos que se aproximavam estavam mal intencionados. O juiz fez pose de autoridade e saiu em direção ao meio de campo, tendo Mário Américo como guarda-costas. Um guarda-costas bastante hábil, que cutucou a bola debaixo do sovaco do monsieur Guigue, pegou a peça preciosa à frente e partiu em disparada em direção ao alambrado.


Comemoração de Garrincha

O massagista brasileiro poderia ter poupado fôlego se tivesse corrido para o lado combinado com Chico, na ida, e se seu comparsa não estivesse engessado pela emoção, na volta. A opção pelo trajeto corredor/muro/janela/vestiário foi a única saída. E no vestiário Mário Américo cuidou de camuflar a bola na maleta de remédios, no meio de muito algodão, esparadrapos e ampolas. Depois pegou uma bola de treinos, envolveu em uma toalha molhada, pendurou em um cabide e sentou exausto em um banco, esperando pelo exército sueco.

"La bole, la bole", ordenava o juiz francês a Mário Américo." Yo quiero la pelota", dizia o tradutor. O massagista usou de gestos acrobáticos, de um sofrível portunhol e de uma elogiável cara-de-pau para dizer que era tudo brincadeira, que a bola estava ali embrulhada na toalha. O juiz e sua turma deixaram o vestiário carregando a bola e a irritação. Enquanto Paulo Machado de Carvalho e Mário Américo ainda comemoravam, juiz e comitiva voltaram ao vestiário brasileiro com uma intimação. A bola da toalha era uma farsa. E que o massagista desse jeito de devolver a verdadeira na festa da noite preparada pela Fifa.

Mário Américo chegou todo bonitão para a festa da noite, fumando charuto, e deu de cara com o juiz francês, que lhe perguntou sem rodeio: "Et la bole"? O massagista deu dois charutos para o francês, esperou que se acalmasse e desse cabo de seu uísque para que cuidassem do problema mais tarde. Depois distribuiu charutos para toda a cúpula da Fifa e ficou observando de longe a construção do porre do juiz, que no final da festa mostrava-se incapaz de distinguir uma bola de gude de uma bola de futebol.

Pelé


O juiz francês embarcou para a França no dia seguinte tentando se lembrar do lugar em que havia guardado a bola devolvida pelo amável massagista brasileiro. Enquanto isso, na concentração do Brasil na Suécia, Mário Américo cuidava de satisfazer a curiosidade da torcida sueca a respeito do episódio do final da decisão da Copa. Amarrou firmemente a bola com um barbante preso a seu pulso e entrou no jardim do hotel tomado por jornalistas. Foi assim que Mário Negrinho virou manchete em todos os cantos do mundo. Mário conseguiu. Aquela bola foi o primeiro troféu deste massagista que fez história no futebol brasileiro



http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/06/serie-copas-parte-1-amarelinha.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/06/amarelinha-parte-2.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/06/amarelinha-parte-3.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/06/amarelinha-parte-4-futebol-brasileiro.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/06/amarelinha-parte-5.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/07/amarelinha-parte-6.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/07/amarelinha-parte-7.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/07/amarelinha-parte-8.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/07/amarelinha-parte-9.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/08/amaretinha-parte-10.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/08/amarelinha-parte-11.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/08/amarelinha-parte-12.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/08/amarelinha-parte-13.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/09/amarelinha-14-garrincha-fora.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/09/a15-aposta-do-locutor.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/09/amarelinha-parte-16-tres-minutos.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/10/amarelinha-17-locutor-paga-mico-com.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/11/amarelinha-18-ousadia-e-humor.html
http://abolaeumahistoria.blogspot.com.br/2013/11/amarelinha19-didi-acalma-bola.html















Nenhum comentário:

Postar um comentário