Garrincha, o dançarino |
Didi, o craque de 1958 |
Futebol brasileiro perde brilho e corre para retomar a magia
Capítulo 1 - Seleção derrota o “complexo de vira-latas”
Resumo do texto anterior
O Brasil, depois de derrotar a temível seleção da União Soviética, chegara às quartas de final para enfrentar o País de Gales no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo. Jimmy Murphy, o técnico da equipe, só não queria perder. Com um empate podria chegas à semifinal. Por isso, montou duas paredes, um grupo de quatro jogadores na risca da área e outro de cinco na intermediária.
O esquema, para loucura dos brasileiros, durou até os 26 minutos do segundo tempo. Foi quando uma troca de passes entre Mazzola e Didi permitiu que Pelé achasse espaço dentro da área. Foi o primeiro gol de Pelé em Copas do Mundo. Brasil 1 a 0.
Complexo de vira-latas dá sinais de fadiga
O Brasil parecia não ser mais o Brasil depois de ter vencido o País de Gales nas quartas de final. O complexo de vira-latas já dera sinais de que a seleção brasileira esquecera o divã na partida anterior, quando Pelé e Garrincha entraram na Copa e apresentaram, no confronto contra a União Soviética, um repertório de dribles ousados que o mundo desconhecia.
Quando a delegação brasileira tomou o trem para seguir para os dois jogos finais em Estocolmo e abanava as mãos para os suecos de Gotemburgo - cidade em que a seleção brasileira disputara as três últimas partidas -, os torcedores pareciam se despedir de uma seleção inigualável que só estava deixando a cidade para apanhar a taça de campeão das mãos do rei Gustavo Adolfo, da Suécia, e voltar para casa.
Este era o medo do estafe da comissão técnica. Feola e Nascimento estavam à frente com o apito de alerta para evitar que se repetisse o filme de um Brasil que tropeçava nas pernas na hora de apagar a velinha. Eles sabiam que a história não era mais a mesma das copas anteriores. Agora a preparação da equipe fora primorosa, e cabeça e músculos dos jogadores foram tratados a pão de ló. Mas aquela petulância de ganhar na véspera tirava o sono do técnico e do supervisor da seleção brasileira. Enfim: para Feola e Nascimento, o divã da seleção brasileira teria ainda que esperar um tempinho pela aposentadoria.
Vicente Feola |
Depois que os jogadores se cansaram de dar adeusinhos para os fãs de Gotemburgo, os brasileiros ficaram trancafiados na concentração de Lilslled, em Estocolmo. E só punham os pés na rua para irem os treinos no estádio de Solna, local da semifinal contra os franceses cinco dias depois da vitória contra os galeses.
O histórico dos times que se enfrentariam na terça-feira, dia 24 de junho, no Estádio Solna-Rasunda, não era a barbada que jornalistas e torcedores brasileiros anunciavam em qualquer esquina – além, claro, dos fãs de Gotemburgo que presenciaram a largada da equipe brasileira no início da Copa.
O goleiro brasileiro Gilmar ainda não tomara gols na competição, enquanto a defesa francesa já tinha sido vazada sete vezes. O ataque da França, porém, era o mais furioso da Copa. Fizera 15 gols em quatro partidas, quase quatro por jogo. Dado importante: o artilheiro era o francês Fontaine, autor de oito gols, atacante que todo momento era guarnecido com passes certeiros pelo meia Reymond Koppa, considerado o Didi francês pelo escritor Ruy Castro.
Gilmar |
Diante da artilharia francesa, a comissão técnica do Brasil passou a arquitetar o esquema de jogo. Parecia inevitável que Gilmar teria que enfim buscar a bola nas redes. E a estratégia foi atacar os franceses logo de cara, como a seleção brasileira fizera na partida contra a União Soviética.
Chegou então a terça-feira, 24 de julho, quando 27.100 pessoas foram ao Estádio Solna ver o que aconteceria naquele espetáculo com as estrelas Pelé e Garrincha, Koppa e Fonataine. Os franceses deram a saída, com a calma de quem está só se preparando para o primeiro bote. Mas isso não batia muito com o planejamento da equipe brasileira, que tomou a bola assim que os franceses começaram a esquentar os neurônios.
Aos 30 segundos, Didi já fez a primeira investida. Bola por cima do travessão. Os franceses desconfiaram da falta de cerimônia, mas deram de ombros. A França cobrou o tiro de meta, agora para esquentar mais rápido os ânimos. O Brasil retomou a bola, Garrincha driblou três adversários, como gostava de fazer, passou para Zito, Zito para Didi, Didi para Vavá, Vavá para as redes. Um a zero. Um minuto e meio de jogo.
Comemoração de gol de Vavá |
Depois do susto, a França foi para o troco. Aos oito minutos, Fontaine resolveu fazer mais um gol na Copa: um a um. Daí, por dez minutos, os neurônios fora de ordem ficaram com o Brasil. Os franceses se cansaram de perder gols e já viam o Brasil desnorteado, como a Irlanda do Norte ficara nas quartas de final, quando Fontaine fez dois gols na vitória por 4 a 0.
O fim dos golpes só aconteceu quando Didi pôs Garrincha para jogar. E seus dribles no lateral Lerond colocaram o moral da equipe em pé. Foi a senha para que Didi, aos 39 minutos, surpreendesse o goleiro Abbes com uma folha-seca que os franceses ainda não estavam familiarizados: dois a um. No segundo tempo, Pelé apareceu para jogar um balde água fria nos franceses. Fez três gols. A França descontou no final: cinco a dois. O segundo tempo valeu para a torcida sueca gargalhar com as jogadas dos brasileiros, feitas para vencer e brincar.O Brasil estava na final e jogaria a decisão contra a Suécia, que venceu a Alemanha por 3 a 1.
Pelo retrospecto das Copas anteriores e pelo complexo de vira-latas que grudara na alma do brasileiro pela fama de o time pipocar na reta final das Copas, o Brasil era a zebra da Copa de 1958. E Geraldo Bretas, locutor da Rádio Tupi, que desdenhou da seleção brasileira e prometeu nunca mais pegar no microfone caso acontecesse o milagre de o Brasil ser campeão, passou a roer unhas em ritmo veloz à medida que o Brasil ganhava os jogos. Na goleada contra a França, o radialista teria seguido a roeção alucinadamente e viajado para lugar desconhecido.
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