quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Amarelinha (18) Ousadia e humor



Garrincha, o dançarino
Didi, o craque de 1958




Futebol brasileiro perde brilho e corre para retomar a magia


 
Capítulo 1 - Seleção derrota o “complexo de vira-latas”



Resumo do texto anterior

O Brasil, depois de derrotar a temível seleção da União Soviética, chegara às quartas de final para enfrentar o País de Gales no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo. Jimmy Murphy, o técnico da equipe, só não queria perder. Com um empate podria chegas à semifinal. Por isso, montou duas paredes, um grupo de quatro jogadores na risca da área e outro de cinco na intermediária.
O esquema, para loucura dos brasileiros, durou até os 26 minutos do segundo tempo. Foi quando uma troca de passes entre Mazzola e Didi permitiu que Pelé achasse espaço dentro da área. Foi o primeiro gol de Pelé em Copas do Mundo. Brasil 1 a 0.



Complexo de vira-latas dá sinais de fadiga

O Brasil parecia não ser mais o Brasil depois de ter vencido o País de Gales nas quartas de final. O complexo de vira-latas já dera sinais de que a seleção brasileira esquecera o divã na partida anterior, quando Pelé e Garrincha entraram na Copa e apresentaram, no confronto contra a União Soviética, um repertório de dribles ousados que o mundo desconhecia.

Quando a delegação brasileira tomou o trem para seguir para os dois jogos finais em Estocolmo e abanava as mãos para os suecos de Gotemburgo - cidade em que a seleção brasileira disputara as três últimas partidas -, os torcedores pareciam se despedir de uma seleção inigualável que só estava deixando a cidade para apanhar a taça de campeão das mãos do rei Gustavo Adolfo, da Suécia, e voltar para casa.

Este era o medo do estafe da comissão técnica. Feola e Nascimento estavam à frente com o apito de alerta para evitar que se repetisse o filme de um Brasil que tropeçava nas pernas na hora de apagar a velinha. Eles sabiam que a história não era mais a mesma das copas anteriores. Agora a preparação da equipe fora primorosa, e cabeça e músculos dos jogadores foram tratados a pão de ló. Mas aquela petulância de ganhar na véspera tirava o sono do técnico e do supervisor da seleção brasileira. Enfim: para Feola e Nascimento, o divã da seleção brasileira teria ainda que esperar um tempinho pela aposentadoria.


Vicente Feola

Depois que os jogadores se cansaram de dar adeusinhos para os fãs de Gotemburgo, os brasileiros ficaram trancafiados na concentração de Lilslled, em Estocolmo. E só punham os pés na rua para irem os treinos no estádio de Solna, local da semifinal contra os franceses cinco dias depois da vitória contra os galeses.

O histórico dos times que se enfrentariam na terça-feira, dia 24 de junho, no Estádio Solna-Rasunda, não era a barbada que jornalistas e torcedores brasileiros anunciavam em qualquer esquina – além, claro, dos fãs de Gotemburgo que presenciaram a largada da equipe brasileira no início da Copa.

O goleiro brasileiro Gilmar ainda não tomara gols na competição, enquanto a defesa francesa já tinha sido vazada sete vezes. O ataque da França, porém, era o mais furioso da Copa. Fizera 15 gols em quatro partidas, quase quatro por jogo. Dado importante: o artilheiro era o francês Fontaine, autor de oito gols, atacante que todo momento era guarnecido com passes certeiros pelo meia Reymond Koppa, considerado o Didi francês pelo escritor Ruy Castro.

Gilmar

Diante da artilharia francesa, a comissão técnica do Brasil passou a arquitetar o esquema de jogo. Parecia inevitável que Gilmar teria que enfim buscar a bola nas redes. E a estratégia foi atacar os franceses logo de cara, como a seleção brasileira fizera na partida contra a União Soviética.

Chegou então a terça-feira, 24 de julho, quando 27.100 pessoas foram ao Estádio Solna ver o que aconteceria naquele espetáculo com as estrelas Pelé e Garrincha, Koppa e Fonataine. Os franceses deram a saída, com a calma de quem está só se preparando para o primeiro bote. Mas isso não batia muito com o planejamento da equipe brasileira, que tomou a bola assim que os franceses começaram a esquentar os neurônios.

Aos 30 segundos, Didi já fez a primeira investida. Bola por cima do travessão. Os franceses desconfiaram da falta de cerimônia, mas deram de ombros. A França cobrou o tiro de meta, agora para esquentar mais rápido os ânimos. O Brasil retomou a bola, Garrincha driblou três adversários, como gostava de fazer, passou para Zito, Zito para Didi, Didi para Vavá, Vavá para as redes. Um a zero. Um minuto e meio de jogo.


Comemoração de gol de Vavá


Depois do susto, a França foi para o troco. Aos oito minutos, Fontaine resolveu fazer mais um gol na Copa: um a um. Daí, por dez minutos, os neurônios fora de ordem ficaram com o Brasil. Os franceses se cansaram de perder gols e já viam o Brasil desnorteado, como a Irlanda do Norte ficara nas quartas de final, quando Fontaine fez dois gols na vitória por 4 a 0.

O fim dos golpes só aconteceu quando Didi pôs Garrincha para jogar. E seus dribles no lateral Lerond colocaram o moral da equipe em pé. Foi a senha para que Didi, aos 39 minutos, surpreendesse o goleiro Abbes com uma folha-seca que os franceses ainda não estavam familiarizados: dois a um. No segundo tempo, Pelé apareceu para jogar um balde água fria nos franceses. Fez três gols. A França descontou no final: cinco a dois. O segundo tempo valeu para a torcida sueca gargalhar com as jogadas dos brasileiros, feitas para vencer e brincar.O Brasil estava na final e jogaria a decisão contra a Suécia, que venceu a Alemanha por 3 a 1.

Pelo retrospecto das Copas anteriores e pelo complexo de vira-latas que grudara na alma do brasileiro pela fama de o time pipocar na reta final das Copas, o Brasil era a zebra da Copa de 1958. E Geraldo Bretas, locutor da Rádio Tupi, que desdenhou da seleção brasileira e prometeu nunca mais pegar no microfone caso acontecesse o milagre de o Brasil ser campeão, passou a roer unhas em ritmo veloz à medida que o Brasil ganhava os jogos. Na goleada contra a França, o radialista teria seguido a roeção alucinadamente e viajado para lugar desconhecido.

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