quinta-feira, 23 de maio de 2013

O nariz


O futebol francês, que nem sempre foi tão comedido como gostaria, mostrou um lado tresloucado no jogo entre o hoje endinheirado Paris Saint-Germain, cujo bolso alçou voo com a grana de Nasser Al-Khelaïfi, empresário do Qatar, e o agora mais modesto Olympique de Marselha. Os times se enfrentavam em jogo disputado pelas oitavas de final da Copa da França. E a mímica foi usada por um inglês do Olympique, contrariado com o solavanco provocado por um grandalhão sueco do PSG. Nome das feras: Joey Barton e Zlatan Ibrahimovic.

Barton, do Olympique de Marselha, e Ibrahioovic, do PSG

Com o encontrão dos atletas, logo depois de Ibra ter aberto o marcador no fim do primeiro tempo, o inglês olhou bem para o sueco e reproduziu com as mãos o que mais lhe chamara a atenção no adversário. Estava na cara do público, e do centroavante sueco, o desenho feito pelos gestos do inglês em uma lousa imaginária.

Barton troçava diante de 44.984 torcedores presentes no Estádio Parc des Princes, em Paris, do nariz avantajado do atacante do PSG. Só para aperfeiçoar sua pequena vingança, ele insinuava com o movimento das mãos que o adversário tinha um Corcovado sob os olhos. E engatou: “narigudo”. Nem precisava.


Embora o sorriso amarelo de Ibra sinalizasse que o inglês tinha manchado o uniforme azul, vermelho e branco do PSG, ele tratou de cuidar da autoestima enquanto caminhava pelo gramado. Vieram, em segundos, lembranças mais amigáveis para fazer vingar a estratégia. E chegaram, é de se supor, coisas do tipo: “eu sou o cara que escancarou a boca do mundo da bola quando fiz um gol de bicicleta do meio de campo, ora bolas! E quem é esse inglesinho para agigantar o meu nariz”?



O sueco então partiu para o troco. O Olympique, está certo, tinha ficado mais saliente depois de levar o gol, mas o PSG apostou nos contra-ataques para dar cabo do jogo. Num deles, apareceu o centroavante mais uma vez. O sueco entrou na área e foi derrubado de forma quase sem querer pelo lateral Morel. Mas o juiz não quis saber do quase. Ibra, claro, se apresentou para a cobrança: 2 a 0 para o PSG, e um silêncio de missa invadiu o coração de Joey Barton.

Mas o meio-campista inglês não foi feito para o silêncio. E reergueu-se, como fizera Ibra, ainda no vestiário, para afiar a língua para novas tarefas. O repertório do inglês não tem fin. Aos 30 anos, Barton já alfinetou todo o mundo que viu pela frente dentro e fora de campo. Em março, cutucara o brasileiro Neymar no Twitter, dizendo que ele era “superestimado” e que jogava na "liga da selva". Foi mais longe: chamou o santista de “xixi de gato”. Neymar driblou a conversa: “não sei quem ele é”.

Como alguém adepto a jogadas mais elaboradas, Ibra avaliou que piadas esquisitas só ganham  volume em botequins do time que se cala com os gols do PSG. E voltou a exibir com galhardia seu nariz, considerado um charme por fãs do sueco – de alguns, pondera. Carlos Ancelotti, técnico do PSG, sabe disso e não fugiu do assunto. "Penso que Ibrahimovic sabe que tem um nariz muito... grande. Essa é uma das suas características", disse o italiano em entrevista depois da partida.

O jogador segue a postura de escutar elogios do espelho, a exemplo do ex-zagueiro do Botafogo Álvaro Lopes Cançado, que participou da Copa do Mundo de 1938. Depois de abandonar a carreira em 1941, Cançado tornou-se um importante ortopedista e ganhou belos capítulos na história do futebol brasileiro. Ah, sim, a torcida evitou rodeios para apelidar o botafoguense: Nariz.

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